A pressão das entidades da sociedade civil fez o autor do projeto, Milton Leite, recuar e apresentar um substitutivo ao PL 825/2024, mas o retrocesso ainda preocupa

Minha Sampa e organizações parceiras denunciam retrocesso ambiental e social com proposta que adia metas climáticas e enfraquece a política ambiental do transporte público em São Paulo. Em meio a um cenário global de intensificação das mudanças climáticas, a Câmara Municipal de São Paulo pode aprovar o Projeto de Lei 825/2024, de autoria do vereador Milton Leite. A proposta inicial, apresentada em 03 de dezembro e aprovada no dia seguinte, ampliava de 20 para 30 anos o prazo para a descarbonização completa da frota de ônibus do município, além de abrir brechas para que empresas voltassem a adquirir veículos movidos a diesel.
As organizações da sociedade civil apresentaram seu rechaço à proposta em audiência pública da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, realizada no dia 09 de dezembro. Os diretores Ana Carolina Nunes e Cauê Jannini fizeram falas sobre os prejuízos à saúde pública e ambiental que poderiam ser gerados pelo adiamento da descarbonização do transporte público. Também destacaram que a Câmara deveria pressionar a Prefeitura a apoiar as empresas de ônibus no cumprimento das metas, em vez de estimular seu descumprimento. Nesta reportagem e no vídeo abaixo é possível conferir alguns dos argumentos apresentados na audiência pública:
No mesmo dia da audiência pública, diversas organizações da sociedade civil, como Minha Sampa, Ciclocidade, Cidadeapé, Quadro Preto e Coalizão Respirar publicaram um apelo conjunto em suas redes sociais. No post, destacamos os dados alarmantes sobre os impactos do PL 825/2024 e convidamos a população a se mobilizar e pressionar os parlamentares que o aprovaram na 1ª votação.
Após a pressão, Milton Leite apresentou um substitutivo ao PL 825/2024. A nova versão mantém o prazo de 2038 para a descarbonização total da frota, conforme estipulado pela lei 16.802/2018 e retira as menções a créditos de carbono. Por outro lado, permite que novos veículos a diesel sejam adquiridos até 2027, o que está proibido desde outubro de 2022. Além disso, propõe novas metas intermediárias que diminuem o ritmo da transição nos próximos anos. Por exemplo, a lei atual estabelece que é necessário reduzir 50% das emissões de CO2 provenientes do transporte público até 2028 e 100% até 2038, usando como base as emissões do ano de 2018. Com a alteração proposta no substitutivo de Milton Leite, até 2028 bastaria reduzir 25%, enquanto a meta de redução de 50% seria adiada para 2032 e seria criada uma meta de 75% de redução até 2035.
“O substitutivo é um recuo parcial, mas ainda insuficiente para atender às demandas da sociedade. O projeto mantém retrocessos que comprometem a qualidade do ar e a saúde da população paulistana”, afirma Clareana Cunha, mobilizadora da Minha Sampa. De acordo com o Instituto Ar, a poluição gerada por ônibus a diesel está associada a cerca de 13 mil mortes prematuras entre 2017 e 2050 na cidade de São Paulo. Os impactos na saúde incluem problemas respiratórios, danos cognitivos e reprodutivos, além de agravamento de doenças cardiovasculares.
A legislação atual, parte da Lei de Mudanças Climáticas, prevê não só a eliminação das emissões de CO2 pela frota de ônibus, mas também a redução de 95% da emissão de poluentes tóxicos, como Material Particulado e Óxido de Nitrogênio, até 2038. Há metas intermediárias para a redução desses poluentes até 2028, que seriam adiadas até 2032 caso o substitutivo seja aprovado. Trata-se de um prejuízo grande para a saúde pública e o meio ambiente. “O PL 825/2024, mesmo em sua nova versão, ainda é um atentado contra a saúde e o futuro da nossa cidade”, reforça Davi Martins, coordenador de Advocacy do Instituto Ar. “Adiando a eletrificação, estamos expondo milhares de pessoas aos efeitos nocivos da poluição. Em um momento de crises climáticas severas, essa proposta é um retrocesso alarmante.”
O próprio prefeito Ricardo Nunes havia se comprometido com a eletrificação de 20% da frota até o fim do seu primeiro mandato. Entretanto, segundo dados da Prefeitura, até outubro de 2024, apenas 3,19% dos ônibus municipais eram elétricos.
Seguiremos atentos para impedir que esse retrocesso seja aprovado.
